
E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio;que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca,porque metade de mim é o que eu grito,mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda ainda que tristeza;que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante,porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,apenas respeitadas como a única coisa que resta no homem inundado de sentimento,porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que falo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço;que essa tensão que me corrói por dentro seja,um dia,recompensada,porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é o que eu calo.
Que o medo da solidão se afaste;que o convívio comigo mesmo se torne,ao menos,suportável;que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que me lembro ter dado na infância,porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade...não sei.
Não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais,porque metade de mim é abrigo e a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,porque metade de mim é a platéia e a outra metade é a canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade...também!
Oswaldo Montenegro,postado por Sonia Regina,05/10/2008