"Que força levava aquela mulher a debruçar-se assim sobre o papel,com tanta urgência e tanto desvelo?
Será que alguém leria,algum dia,aquelas linhas? Pensei na frase ouvida certa vez de Carlos Heitor Cony: "Eu escrevo e ninguém toma providências". Aquela mulher escrevia e ninguém fazia nada.
O mundo passava por ela, indiferente, seguindo seu curso apressado, repleto de objetivos, enquanto ela continuava lá-escrevendo,simplesmente.Mas,afinal,por quê?
Ali estava eu,um estorvo no meio da rua,paralisada diante de uma mulher e sua pena.Manobrando,fui embora.E ela ficou para trás.Solitária,perdida em seu mundo silencioso,com o lápis na mão,tendo apenas os cães por companhia.
Nunca mais passei por lá,mas penso nela,às vezes.E,ao relembrar seus gestos,concluo:ela continuará escrevendo,sempre.Deve ser sua sina,a expiação necessária,vício solitário que a condena e escraviza,mas que também a redime,salvando-a da morte e da loucura.Sim,ela seguirá escrevendo,podem estar certos.Porque é preciso."
Desconheço o autor,postado por Sonia Regina.