
Sons... Música, instrumentos de trabalho lá fora na rua, ruído de carros, zumbido do ventilador de teto, televisão que "fala"pra ninguém, motor da máquina da lavar, vozes, a voz...
Ah!a voz...Importantes aquelas que se ouve sem que se veja o rosto de quem nos fala.Vozes marcam, algumas a ferro, para mostrar a quem pertence certas almas.
Se pensamos no som da voz, na entonação,naquele modo peculiar de pronúncia que cada um tem, tempo retorna como uma onda nos levando no "caixote".
O tempo muda tudo: a aparência de todos, os sonhos(a maioria desaparece com ele), situações, personalidades- que se acomodam ou incomodam- e não mudou a inflexão de uma voz nem os sentimentos que provoca.
Ouvindo sua voz distante, parecia que era ontem, quando conversávamos, sempre às 20:30h. Neste ontem se vão quarenta anos.
Onde foi parar o que nos movia a nos falar todos os dias? Onde foi parar o interesse pelos assuntos um do outro? Será que foi apenas velado?
Sinto que reluta em desligar, insiste em explicar muitas vezes o mesmo tema e teimo em querer ouvir mais e mais, sabendo que vou adormecer com aquele som no coração, que será, então, aquecido do frio de que padece há quatro décadas...com saudade do que um dia fomos...
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Sonia Regina / 1999