QUEM SOU EU...
"Ninguém pode calar dentro em mim esta chama que não vai passar, é mais forte que eu e não quero dela me afastar....
Eu não posso explicar quando foi e nem quando ela veio, mas só digo o que penso, só faço o que gosto e aquilo em que creio..."(Maysa)
Com as outras dores fazem-se versos...com as que doem,grita-se! (Fernando Pessoa)
Quem "grita" como eu......
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Cada bibelô é uma alma
Somos seres acumulativos.Com mania de comprar objetos que enfeitam a casa e a vida.Cada vez que se viaja,traz-se para o interior da sala aquelas lembranças que vão fazer parte da nossa memória.E que traduzem nosso gosto estético e um pouco de nossa biografia.
São como aquelas migalhas de pão que João e Maria,no afã de deixar um rastro,espalham pela floresta.E que bem falam deles e de seus destinos.
Estes bibelôs,enfeites,troféus,são assim indispensáveis ao nosso cotidiano.E conquanto não sejam essenciais na prática,têm a transcendência dos livros de oração,de tudo que é para nós sagrado.
Quando visito amigos observo as peças que são objeto de culto por parte do dono.São elas que me dizem em que espécie de casa estou.A quem essa morada de fato pertence.O tipo de rubrica estética e afetiva que o dono leva nas costas.São peças,enfim,que na sua banalidade falam da alma alheia,dos seus medos,da sua infância,das suas frustrações.
Fico a imaginar o que representam esses objetos se lhes faltarem seus donos.Como sobreviveriam à morte de seus proprietários.Onde iriam eles parar na hora do inventário.Sob proteção de quem guardarão eles para sempre o calor dos seus antigos senhores.
De visita,pois,a essas casas,sou frequentemente tomada pela tristeza.Sobretudo quando olho na prateleira aquela alpaca de cobre,por exemplo,trazida das montanhas peruanas,graças ao fervor de quem a comprou com a convicção de incorporá-la ao seu patrimônio pessoal.O que ocorrerá no futuro?
Quantas vezes,após despedir-me de um amigo que se foi para sempre,sofro sobressaltos.Primeiro temo que chova nos dias que se seguem.Não quero encharcada a terra onde repousa meu amigo.Posteriormente evito retornar à casa onde ele viveu acomodado em meio às coisas que compuseram o seu universo.Julgo intolerável inventariar seus objetos,ver dispersas as peças que,longe dele,de volta ao mundo,soltas,sem nome,nada dizem.
O que falará mais dos mortos que seus pertences abandonados?Já não tendo quem os aprecie,encaminhe-lhes um olhar amoroso.Cada peça agora perdendo sua linguagem original.Já não tendo como defender a presença do finado,que começa a esfumar.Como a conclamar que não o esqueçam.
Como é triste um objeto que perdeu seu dono!Quando o dono já não se encontra por perto para tirar-lhe a poeira,para acalentá-lo com a palma quente das mãos.Já não se sabendo destinado a enfeitar a vida e a imaginação de um homem.
Nélida Piñon,postado por Sonia Regina.
Tenho consciência que existe certa morbidez nesta crônica.A meu ver é uma metáfora sobre a qual vale a pena pensar....
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8 comentários:
Também percebi ser uma metafora..salvei ela aqui para reler e pensar sobre ela..
beijos
Gosto sempre tanto de ler as suas palavras :)
Certa morbidez??? certa...!
Muito bom, como sempre, teu blog, gosto daqui.
maurizio
Já fui muito chegada a esses mimos,hoje não ligo muito não.
Apenas qdo viajo procuro comprar e presentear com uns bibelôs.
Um gde abraço amiga.
bjs.
Amigo Olavo!Eu a enxergo com significados muito além dos bibelôs...
Obrigada por me visitar!
Beijos,Sonia Regina.
Obrigada Vanessa por suas visitas!
Um beijo,Sonia Regina.
Maurizio,é mórbido e triste,mas se sairmos dos bibelôs há muito que se pensar.
Obrigada por gostar de meu espaço,volte sempre,Sonia Regina.
Oi,Ana!É nessas comprinhas que eles vão se aglomerando....
Beijos,Sonia Regina.
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