
Que tristeza é essa que me estraçalha a alma?Sinto-me rasgada em pedaços e parece que os perdi pela casa:na área de serviço,nas lavagens do banheiro,sugados pelo cano do aspirador.Meus melhores pedaços desceram pelo ralo da pia da cozinha.Pouco a pouco nada mais vai restando,tudo vai se dissolvendo como a esponja da pia.
O que mais me aflige é que só me sinto bem na cozinha,no banheiro,no varal de roupas,com o aspirador nas mãos.Há dias em que gostaria de me balançar no varal,junto às roupas coloridas para que a brisa secasse,docemente,as minhas lágrimas.Outros queria estar pelo chão para que o aspirador sugasse o pó acumulado nos cantos escuros de minha alma e ela pudesse mostrar-se límpida.Quem sabe,o amaciante de roupas tornasse menos ásperos,mais macios os meus sentimentos?
Pouco a pouco me transformo numa utilidade doméstica.Só uma dúvida:quem se encarregará de meu uso e manutenção?
Sonia Regina/1994
2 comentários:
O texto é tocante, e de desconcertante honestidade. Não é a qualquer momento que conseguimos expelir um painel tão direto de nós mesmos. Parece um texto sem revisão - como geralmente são aqueles que cuspimos com dor e verdade. Temos aqui uma escritora - onde mais, e para quais públicos, ela se revelará?
Fernando Lomardo
Meus textos são escritos exatamente como você os descreveu:são cuspidos com a finalidade de me faxinar a alma.Obrigada por passar por aqui e deixar seu comentário.
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