Resolvi mexer em uma de minhas gavetas,uma meio esquisista onde guardo objetos estranhos e que,sei,jamais farei uso.Entre os achados encontrei esta crônica que logo percebi porque estava guardada naquela gaveta específica.Repasso aos meus amigos porque apesar do título o autor é brilhante,a meu ver!
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Pertenço a essa estranha espécie existente entre os mortais que tem a mania de guardar inexplicáveis trecos nas gavetas. Admiro os cidadãos de mesa limpinha que têm coragem de jogar fora papéis, orações no verso de santinhos, vidros velhos de homeopatia, marcadores de livros com mensagens edificantes, benjamins para alguma utilidade, fio dental, radinhos de pilha velhos.
Eu não.
Acumulo-os por motivos misteriosos pois reconheço inexistir qualquer lógica ou coerência no ato. Há algo que dói ao jogar fora qualquer resultado do trabalho humano. E na dúvida, guardo. Fios velhos, pilha que não gastaram até o fim, clips enferrujados, um olho de boi contra a inveja e o mau olhado, um pente de osso reserva do principal que anda no bolso de trás, dois ou três comprimidos (com validade vencida...) para eventual acidez estomacal, uma régua velha rachada, os elásticos que recebi e não joguei fora, bloquinhos, uma prece milagrosa para Santo Antonio de Categeró que diz : “Oh Santo Antonio de Categeró, estendei Vossas mãos agora mesmo sobre mim, livrando-me dos desastres, da inveja e de todas as obras malignas”.
Lá podem ser encontrados, ademais: um caderninho com sugestões de remédios da flora que possivelmente nunca usarei mas me traz segurança tê-lo pois apresenta, entre tantas outras maravilhas curativas: a pomada cipó azougue, a pomada Calêndula, palavra que ademais é linda e fico a repetir, Calêndula, Calêndula, e aconselha ainda o afamado colírio de cinerária marítima que com um nome assim elegante deve possuir formidável poder de sarar. E um livrinho pequeno, de capa amarela, que há muitos anos recebi do trovista mineiro Waldemar Pequeno onde posso ler entre quarenta outras, esta graciosa trova:
"De todos os bens do mundo,
jamais se alcança o melhor.
Mas dos pesares da vida,
o nosso é sempre o pior."
Salve as minhas bugigangas! Mania de reter o que me parece latejar de boas intenções, espécie de “ter poético” ao qual raramente recorro mas do qual chego a sentir a pulsação de significados ocultos e meio mágicos. Coisa de doido, de poeta ou de velho mesmo.
Artur da Távola,postado por Sonia Regina,07/11/2008
5 comentários:
Bom dia amiga!
Eu não guardo nada,sempre faxino gavetas,armários,bolsa,etc...
Enqto minha mãe e minha irmã,nossa els guardam de tudo.
Fim de semana com muita luz.
beijooo.
Oi,Ana!Eu já sou igual a esta crônica,guardo tuuuudo,por isso a postei.É a própria"me vi te lendo",beijos e aproveite o final de semana,Sonia Regina.
Olá querida Sónia,
Tão interessante este texto!
Achei engraçado.
Eu não sou de guardar tudo, embora me prenda bastante ás "coisas".
De guardar...é o meu marido.
Mas a minha amiga não faz a mais pequena ideia das coisas esquisitas que ele guarda!
Olhe, no escritório dele, quase não se sabe onde pousar o pé!
Mas cada um é como é.
Um abraço amiga linda e um bom final de semana
viviana
Olá Viviana!Eu tenho uma gaveta como esta da crônica e guardo também coisas estranhas que nem sei porquê...
Adoro vê-la sempre por aqui,um bom domingo,beijos,Sonia Regina.
"De todos os bens do mundo,
jamais se alcança o melhor.
Mas dos pesares da vida,
o nosso é sempre o pior."
gostei muito da trova...
beijinhos
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